quarta-feira, 21 de novembro de 2012

CADA UM TEM A GÊMEA QUE MERECE (JACK AND JILL) X VIZINHOS IMEDIATOS DE 3º GRAU(THE WATCH)

Resolvi falar sobre esses dois filmes de forma conjunta porquê, sinceramente, eles não merecem um post só pra eles. Outro motivo é poder comparar a obra e o perfil de Adam Sandler e Ben Stiller, dois dos "comediantes" mais celebrados do atual cinema norte-americano. É verdade que ambos já fizeram alguns filmes "assístiveis", em sua maior parte comédias românticas. É também fato que, ao tentarem se aventurar em outros gêneros, raramente o resultado foi produtivo.
Foi este o caso com Adam Sandler, que, a exemplo de Eddie Murphy em suas comédias Vovózona e Dr. Doolittle, impersonou mais de um personagem na mesma obra. Confesso que não assisti nenhuma delas, mas é difícil acreditar que a performance de Murphy tenha sido menos sem graça que os dois irmãos gêmeos encarnados por Sandler. A dupla é composta de um publicitário e sua irmã, uma figura caricata que, por mais trapalhadas e piadas forçadas que faça, não consegue arrancar risadas do público, em tentativas sofríveis por parte do ator principal, que simplesmente não combina com esse tipo de papel.
O que talvez salve o filme do desastre total é a participação do deus do cinema Al Pacino, que, interpretando ele mesmo, acaba de apaixonando pela estabanada gêmea. O irmão precisa da participação de Al em um comercial de TV para salvar sua agência, e acaba movendo mundos e fundos para convencer a irmã a dar uma chance para o ator.
O resultado final é uma comédia de baíxissima qualidade, com índice nulo de piadas inteligentes e praticamente o mesmo nível de risadas para qualquer pessoa com QI acima de 80.
Igualmente mal-sucedida foi a empreitada de Vizinhos Imediatos de 3º Grau, capitaneada por Ben Stiller e Vince Vaughn, em um roteiro que tenta misturar ficção científica e comédia, em um resultado, no mínimo, indigesto.
Os dois atores fazem parte de um grupo de vigilantes de uma vizinhança que foi atacada por um ser estranho, que mais tarde se descobre ser um alienígena. Vaughn é pai de uma adolescente e alterna o trabalho de vigilância da vizinhança com a patrulha da virgindade da filha. O filme tenta repetidas vezes fazer uso de piadas à là videocassetadas, com nenhuma sacada digna de receber a alcunha de humor inteligente. Nem mesmo o ator Jonah Hill, que apresentou performances carismáticas em outros filmes, teve bom desempenho.
Aos que alegam assistir filmes só por diversão, para descontrair e não para pensar, recomendo que façam outra opção, pois estarão comprando gato por lebre.

terça-feira, 24 de julho de 2012

LIKE STARS ON EARTH (2007)

Meu primeiro contato com o cinema indiano se deu em 2008, com o premiadíssimo “Quem quer ser um milionário?”. Por incrível que pareça, Like stars on Earth compartilha muitos dos prós e contras com o mais premiado êxito de Bollywood até hoje, a citar. Como aspectos positivos, ambos apresentam esquema de cores e fotografia belíssimos, roteiro criativo e fora do mainstream americano, elenco muito bem escolhido, com atores e atrizes desempenhando espetacularmente seus papéis, demonstrando a grande capacidade de direção do indiano Aamir Khan.
Infelizmente, é difícil encontrar um filme perfeito. Que me desculpem os saudosistas dos antigos musicais, mas a inserção de canções com clipes no meio de filmes não me agrada e foge ao propósito de contar uma estória com objetividade.  Ao levar em conta que é a vida de uma criança indiana que está sendo contada, até pode-se fazer vista grossa para os cerca de 20 minutos “perdidos” com musicais, alguns deles até pertinentes ao relato, mas a maioria não.
Digressões e críticas a parte, Khan consegue transformar algo que poderia ser visto como piegas nas mãos no diretor errado em mais de duas horas e meia de uma história de emoção e superação. O final da frase anterior já dá a dica: nosso protagonista, o espoleta Ishaan Awasthi, de 8 anos, bagunceiro, distraído e, aparentemente, com inteligência abaixo da média. O menino-problema é causa de constantes dores de cabeça para seus pais, que não tem o mesmo problema com o filho mais velho, Dada, que sempre tira as notas mais altas da sala.
Um dia, Ishaan gazeia aula e pede para o irmão forjar a assinatura da mãe, para fugir da bronca. Como mentira tem perna curta, o golpe acaba sendo descoberto e os pais vão à escola, onde recebem mais uma enxurrada de reclamações sobre o filho. O pai decide que essa é a gota d’água e manda o filho para uma escola interna.
Ali, dá-se uma transformação radical na personalidade do menino até então bagunceiro e sempre com um sorriso no rosto. A dificuldade de aprendizado lhe faz virar motivo de riso constante dos colegas e broncas dos professores, que lhe chamam a atenção todos os dias. Ishaan, praticamente mudo e deprimido, parece estar no fundo do poço quando seu salvador da pátria aparece. O professor de artes, carrasco que dava reguadas nos alunos que não desenhassem objetos com perfeição, muda de emprego, dando lugar a um professor interino. Esse jovem, de métodos pouco ortodoxos, é o que descobre o que há de "errado" com Ishaan e vê o potencial do menino escondido atrás de uma falsa fortaleza que o menino tenta impor para o mundo.
É a partir daí que o filme floresce e começamos a torcer ainda mais pelo protagonista, quando descobrimos o que havia de errado com ele e o poder que a confiança dos outros pode exercer em nós, tanto para o bem, quanto para o mal.  É uma linda lição de vida.

sábado, 29 de outubro de 2011

POESIA E IMAGEM: UM MATRIMÔNIO DE SUCESSO





O autor da máxima “uma imagem vale mais que mil palavras” provavelmente não considerou que as tais “mil palavras” em questão estivessem em forma de poesia. Afinal, como poderíamos comparar a profundidade de uma poesia, que descreve das mais simples paisagens aos mais complexos sentimentos, a uma fotografia, que nem sempre retrata a veracidade de uma situação?
Indo mais a fundo, poder-se-ia dizer, ainda, que poesia e fotografia caminham de mãos dadas. Consideremos o fértil campo do cinema, que nada mais é que uma sucessão de fotografias. Fosse a imagem suficiente para descrever qualquer cena que fosse, o cinema mudo não necessitaria legendas para se fazer entender, caso contrário os filmes sem diálogo perdurariam até hoje, o que não acontece justamente devido a tal interdependência. O fato é que a imagem ganha força e atinge sua plenitude máxima quando acompanhada das palavras certas e vice-versa.
A exemplo dos cineastas, também os poetas, principalmente os concretistas, viram a necessidade de aliar a mensagem ao visual, dada a preocupação dos últimos em aliar o conteúdo que escreviam à forma do mesmo, diferente da poesia convencional. Tal experimentalismo, em contrapartida ao cinema, pode ser observado em abundância no cinema noir, ou nouvelle vague francês, onde, além da poesia inerente tanto ao cenário quanto aos roteiros, observava-se grande preocupação estética, indo do tratamento preto e branco das imagens (cooptado mesmo quando o technicolor – técnica de colorização de filmes – já estava disponível) ao ambiente sempre romântico e até certo ponto utópico retratado pelos diretores daquelas películas.
No cinema contemporâneo, um nome a ser citado é o do diretor americano David Lynch. Para muitos, o cinema nonsense de Lynch estaria mais para um videoclipe sem pé nem cabeça que para uma obra de arte propriamente dita. Para a minoria restante, onde me encaixo, a obra do cineasta aliaria uma poesia de vanguarda, abstrata e contemporânea - alheia aos ditames do poesia clássica - a um trabalho de imagem igualmente poético, preocupado em complementar a mensagem transmitida ao público.
Opções que ilustram o casamento de sucesso entre poesia e imagem não faltam, o que nos permite concluir não que uma imagem vale mais que mil palavras e sim que a imagem certa permeada pelas palavras adequadas, essas sim, valem mais que mil palavras e mil imagens sem conteúdo juntas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A ILHA DO MEDO (2011)


Tivesse eu assistido a esse filme ano passado, teria sido totalmente diferente a minha interpretação sobre o mesmo, já que, além da satisfação que um filme nos causa, outro quesito importante a considerar são as referências que podemos traçar entre obras (literatura, filmes, música) que já conhecemos e as que estamos conhecendo ou prestes a conhecer.
A razão de tamanha mudança é que nesse ano, durante o primeiro ano da faculdade de Letras-Inglês, estou aprendendo sobre psicologia e filosofia.
Da primeira matéria, auxiliou a mudar minha visão sobre o filme o conceito de psicanálise, desenvolvido por Sigmund Freud. A conexão com o filme se observa na supressão de memórias que o personagem principal, vivido por Leonardo di Caprio, se vê obrigado a exercer para que possa se manter vivo. Tamanha é a influência dos acontecimentos que o personagem se obriga a esconder sua personalidade principal e assumir um alter-ego, esse sim sem um horrível passado a esconder.
A estória, como era de se esperar, se passa em um hospital psiquiátrico para criminosos perigosos, localizado na Ilha Shutter. Di Caprio, o agente Teddy Daniels, chega a essa ilha acompanhado de Chuck, um parceiro policial, interpretado por Mark Ruffalo. A missão dos dois seria descobrir o paradeiro de uma perigosa interna que teria escapado misteriosamente da ilha.
A estadia, que deveria durar ao menos até o mistério ser resolvido, acaba sendo reduzida devido a recusa que o diretor do hospital (Ben Kingsley) oferece aos pedidos de documentação e entrevistas requisitados pelo oficial. O retorno antecipado também acaba sendo adiado, devido a uma tempestade inesperada que assolou a ilha na mesma noite.
O prolongamento acaba dando à Di Caprio a oportunidade de vasculhar melhor a ilha, e, assim, ter a oportunidade de levar a cabo sua verdadeira intenção no local: encontrar o suposto incendiário que teria posto fogo na casa de sua falecida mulher, matando a ela e seus dois filhos.
Acresce-se a lista de descobertas uma ex-psiquiatra do hospital, que faz revelações bombásticas ao agente sobre algumas atividades "secundárias" que acontecem na ilha, fato este que acaba turbinando ainda mais a paranóia de Di Caprio.
A trama ganha pouco a pouco contornos cada vez mais esquizofrênicos, alternando o ponto de vista dos médicos e do agente, chegando-se a um ponto quando não sabemos mais em quem acreditar. É nessa hora que um flashback, inspirado na tragédia grega de Medéia (eis minha contribuição da aula de Filosofia), nos ajuda a entender quem tem realmente razão. Tanto na versão original quanto nesta atual, é realmente algo difícil de engolir, até mesmo para Leonardo di Caprio.
Para os que não estão familiarizados com os conceitos de psicanálise e da tragédia grega em questão, talvez esse filme não cause o mesmo impacto que causou em mim. Ainda assim, apesar de grosso modo ser um thriller cujo roteiro é relativamente batido, aspectos como atuação, a fotografia (o clima sombrio do filme é muito bem produzido), a trilha sonora (de grande serventia para a construção do clima de suspense) e principalmente a confusão que o diretor acaba conseguindo causar no espectador fazem de A Ilha do Medo um filme a ser assistido com bons olhos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

THE KING'S SPEECH (2010)


Dentre os candidatos à premiação de melhor filme do Globo de Ouro deste ano, o que mais me agradou foi O Discurso do Rei e, apesar de A Rede Social ter levado o premio acima citado, é meu favorito ao Oscar daquela categoria.
A primeira razão é o roteiro do filme, que se encaixa naquela fórmula de um protagonista (nesse caso o rei George VI, da Inglaterra) que vence grandes dificuldades (uma gagueira de origens emocionais) com o auxilio, digamos, da última opção disponível (um terapeuta vocal que aprendeu suas técnicas durante a guerra).
Colin Firth (merecidamente vencedor do Globo de Ouro de melhor ator principal) encarna o segundo na linha de sucessão monárquica, sendo cooptado apenas por suas restrições de discurso e substituído, às pressas após a morte de seu pai, por seu irmão boêmio , o rei Edward VIII (vivenciado pelo canastrão Guy Pearce, convincente no papel). Acontece que Edward acaba diante de uma encruzilhada moral: sua pretendente já foi divorciada duas vezes e, não podendo desposa-la por razões do protocolo real, acaba optando em deixar o cargo ao irmão.
Nesse ínterim, o ainda Duke de York (Firth), já farto de fracassos nos diversos terapeutas a que havia recorrido, acaba sendo convencido pela futura rainha Elizabeth (a carismática Helena Bonham Carter, de Clube da Luta) a tentar uma última cartada, experimentar os métodos pouco ortodoxos do ex-ator de teatro e terapeuta vocal Lionel Logue, encarnado pelo excelente e injustiçado Geoffrey Rush. A relação entre médico e paciente começa tumultuada, prejudicada sobremaneira pela soberba do Duque de York, que acaba sendo amolecida aos poucos pelos inéditos resultados que Lionel, como o mesmo insiste que o chamem, acaba demonstrando.
O morango do bolo acaba ficando para o final, quando, em um momento regido magistralmente pelo diretor Tom Hooper, o então monarca vê-se obrigado a dar um discurso via rádio para sua nação, anunciando a guerra contra os alemães de Hitler. Permeado por uma trilha clássica que faz tremer da cabeça aos pés, Firth protagoniza um dos momentos de maior emoção histórica que já pude presenciar nos filmes que já assisti. Um deleite poder presenciar a melhor atuação de Firth que já vi e também Geoffrey Rush finalmente retornando a receber um papel que exigisse mais de seu grande talento, como visto em Shine, de 1996.

domingo, 5 de dezembro de 2010

HOT FUZZ (2007)


Depois de uma certa bagagem cinematográfica, quando estamos familiarizados com os principais diretores e estilos de cinema, é lugar-comum que filmes com explosões e tiroteio constantes não podem levar a sério. Pois bem, Chumbo Grosso, no título em português, é uma exceção à regra.

Essa comédia inglesa é digna de ostentar a fama do "humor inglês", ácido, cínico e sem a apelação que suas congêneres americanas apresentam em profusão.

O roteiro é delicioso: uma crítica tenaz à polícia metropolitana inglesa, que, quem diria, tem alguns vícios parecidos aos de alguns companheiros brasileiros. Porém, dentre um batalhão de defensores públicos preguiçosos, aparece um espécime raro: Nicholas Angel. Angel, um policial prodígio, é o terror das ruas de Londres, tanto para os criminosos, quanto para os próprios colegas, que se sentem inúteis frente ao desempenho ímpar deste.

Visando limpar a barra da corporação, o auto comando da força decide transferi-lo para Stanford, uma cidadezinha pacata que ostenta os menores índices de criminalidade do país, ou seja, o limbo para Angel.

Mas o que aparentemente seria o cúmulo do tédio para tão gabaritado profissional, acaba se revelando justamente o contrário. Inicialmente sendo compelido a autuar infrações pouco "emocionantes", como menores bebendo em bares, policiais bêbados tentando voltar dirigindo para casa, entre outros, acaba virando em uma conspiração para proteger a reputação da idade.

É aí que Angel, juntamente com Danny Butterman, filho do inspetor-chefe da cidade, começa a mostrar serviço, desmascarando uma onda de crimes que há muito vinha sendo encoberta. Uma comédia inteligente, saborosa e cheia de surpresas, muito acima da média.

sábado, 20 de novembro de 2010

THE INVESTIGATOR (2008)

Em uma época onde nada mais se cria, um tanto se transforma e outro tanto se recicla, é revigorante presenciar um thriller húngaro à altura do suspense que o mestre Hitchcock impingia à suas películas.
Afinal, uma definição de um bom suspense não seria "colar o espectador à poltrona, com o coração palpitando e à espera do próximo susto, ou revelação surpreendente"? Nesse quesito, nota 10 para esse enredo intrigante e bem amarrado, ainda que com nem tanta originalidade.
Ainda assim, é gostoso se pegar imaginando o que virá pela frente e esperar até os últimos minutos para saber as surpresas que o roteiro nos revela.
Uma outra referência digna de menção são as implicações morais, que até certo ponto lembram parte da obra de Bergman, presentes na história. Ora, e agora começo a falar do filme em si, quão difícil é julgar se o assassinato é certo ou errado quando o objetivo do mesmo é a tentativa de salvar a vida da própria mãe, por piores condições de saúde e mais avançada a idade em que ela esteja? A indecisão em "julgar" bem e mal se torna ainda maior quando nos tornamos familiares com o personagem principal, um patologista assistente (ou, em miúdos, o homem que toma conta dos cadáveres que chegam a um hospital e os trata para que estejam apresentáveis na hora do funeral) retraído, intimista e introvertido, alheio ao convivío social, para qual a morte não representa um tabu, mas sim sua rotina diária.
E o que pensar quando descobrimos que esse homem, Tibor Malkav, recebe, alguns dias após o crime, uma carta do homem que matou, dizendo ser seu meio-irmão? É a partir daí que a história ganha ainda mais fôlego, quando uma intrincada trama familiar de intriga, cobiça e mistério dá mais tempero ao clima tenso do enredo. Nós mesmos, nesse ponto, já estamos querendo assumir o papel de investigador de nosso anti-herói do filme ansiosos em saber porquê alguém incitaria outrem a assassinar o meio-irmão desconhecido. É justamente essa "qualidade", digamos assim, que confere a esse filme um tal ar de nostalgia, que só é dissipada quando nos damos conta que não a cores exibidas em nossa tela ultrapassam o charme do preto e branco e a artificialidade do Technicolor® utilizado em alguns filmes de Hitchcock. E assim, percebemos que o bom cinema de suspense ainda está vivo, ao menos fora de Hollywood.